No século 19, o Vietnã foi colonizado pela França. Na Segunda Guerra, foi ocupado pelos japoneses. Terminada a ocupação, participou da Guerra da Indochina para acabar com o domínio francês. Por fim, passou pelo longo conflito entre o Sul e o Norte, a Guerra do Vietnã, que finalmente terminou em 1975, deixando em seu lugar um país arrasado, pobre, agrário e analfabeto.
Esse mesmo país surpreendeu o mundo em 2012, classificando-se no PISA em 8ona prova de ciências e 17ona prova de matemática. Nesses mesmos testes, o Brasil obteve a 59a e 58a posição entre os 65 países participantes.
O Vietnã é um azarão, um país inesperado. É a única nação de baixa renda que tem uma educação básica no nível da Finlândia, Alemanha e Canadá, e melhor que a dos Estados Unidos e Reino Unido.
Como é que um país com uma população de 84 milhões de habitantes, e renda anual per capita de 1 .900 dólares – menos de um quinto da do Brasil – conseguiu essa proeza?
A receita de sucesso do Vietnã envolve uma série de medidas que podem parecer um tanto quanto óbvias, mas que fazem uma enorme diferença quando levadas a sério.
Em 2003, o Governo do Vietnã estabeleceu padrões de qualidade para as escolas.
Da gestão ao conteúdo ensinado em sala de aula, tudo passou a ser avaliado. A partir de 2007, o Governo passou a alocar 20% do orçamento público à educação. Com mais recursos, aumentou o número de escolas e vagas, inclusive da pré-escola, implantou a jornada integral na rede pública, e passou a exigir mais dos professores.
A carreira do professor também começou a seguir padrões de desempenho, e os salários passaram a ser condicionados ao aumento da qualificação do mesmo.
O Governo instituiu um reconhecimento aos melhores professores, e aqueles que conseguem a credencial passam a concorrer em competições regionais e nacionais de ensino. A premiação foi uma forma de driblar a desmotivação na categoria, cujo salário máximo chega a 165 dólares – apenas 20% a mais do que ganha um caixa de supermercado em Hanói, a capital do país.
O exemplo vietnamita mostra que é possível aumentar a qualidade do ensino em um curto espaço de tempo, mesmo partindo de um patamar inicial muito baixo. O que tem sido um importante motor de sua economia. Nas últimas duas décadas, o país tem experimentado um invejável crescimento econômico. Os pobres que eram 58% da população em 1993, hoje não chegam a 10%.
Embora inspirador, o modelo vietnamita não está livre de críticas.
Apenas 60% dos jovens na faixa dos 15 anos estão na escola. Outro senão é de natureza pedagógica e refere-se ao excesso de memorização de conteúdo.
O ensino básico não é totalmente gratuito porque os pais precisam pagar pelo material gasto pela escola: giz, papel e tudo o mais. Também é costume dar uma gratificação ao professor para compensar os salários.
Há os que dizem que as diferenças culturais impedem a adoção das medidas no Brasil.
Lá, os estudantes são focados e levam as tarefas de casa a sério. Eles não se atrasam e faltam pouco às aulas. Mesmo com baixos salários, o comprometimento dos educadores é alto. Professor que falta às aulas, praticamente não existe. Nas escolas, a disciplina é rígida. As expectativas e a pressão que as famílias colocam sobre os alunos são muito altas. A educação é entendida como um privilégio e os pais têm orgulho de que seus filhos possam estudar, por isso, envolvem-se nos estudos dos filhos.
As opiniões são divididas. Há os que reconhecem que, apesar de nenhum modelo ser totalmente replicável, várias dessas políticas bem que poderiam ser adotadas por aqui.
Wan Yu Chih
Presidente da Comissão Distrital da Fundação Rotary 2016-2019
Artigo baseado nas matérias “Até o Vietnã passou no teste” de Fabiane Stefano, revista Exame, 15/11/2014, e “Vietnam’s students perform mysteriously well on tests, and researchers have figured out why” de Chloe Pfeiffer, Business Insider, 14/07/2016.