Fato ou Fake

Tuberculose, hepatite, difteria, tétano, coqueluche, pólio, rotavírus, pneumonia, meningite, sarampo, caxumba, rubéola, febre amarela. No passado, as pessoas buscavam o auxílio da ciência. Mas depois que o medo dessas doenças começou a diminuir, boa parte da população deixou de levar os filhos para serem vacinadas. Outras, passaram a dar vazão a teorias conspiratórias envolvendo a classe médica, científica e autoridades governamentais, como se estas estivessem a serviço da indústria farmacêutica.

O mundo inteiro está se mobilizando para combater as “Fake News”. É a expressão da moda, o nosso Factoide. Trata-se de uma afirmação enganosa apoiada por uma evidência falsa ou que não pode ser obtida. Os supostos fatos são apresentados de tal maneira que se tornam aceitos como verdade por uma parte da população.

Por que as fake news são tão persuasivas?

Existem várias razões para isso. Primeiro, por acomodação. Poucas tentativas são feitas por quem recebe a informação para verificar a sua veracidade. Segundo, porque não estamos preparados para desmascarar cada factoide, principalmente quando o assunto é técnico ou se baseia em informações ou conspirações secretas ou conhecimentos esotéricos, difíceis de se avaliar e investigar. Terceiro, muitas fake news passam pelo nosso “desconfiômetro”. É quando nem pensamos em perguntar: Isso é realmente verdade? Quem ganha contando repetidamente esse factoide? Por fim, aceitamos algumas fake news porque elas atendem a uma ou mais necessidades psicológicas.

Um factoide celebrizado é o da Guerra dos Mundos, um espetáculo radiofônico de ficção científica apresentado em 1938 por Orson Wells, que acabou aterrorizando milhões de pessoas que acharam que a invasão alienígena narrada era real.

O uso de factoides também é uma prática comum em campanhas contra outras nações. Adolf Hitler e seu ministro da propaganda, Joseph Goebbels, dominaram a técnica da “grande mentira” – uma declaração mentirosa apoiada por pequenos fatos, verdadeiros, para tornar a mentira aceitável.

De acordo com essa teoria da propaganda nazista, para persuadir as massas é preciso elaborar e repetir com frequência as falsidades, como por exemplo, “o povo alemão é uma raça superior”, “a Europa está ameaçada pela conspiração judaica”. É difícil de comprovar essas afirmações. O fato de não haver provas de que existe uma conspiração judaica é colocado como mais uma evidência a respeito da esperteza dos judeus. Os fatos menores que dão apoio à alegação principal são que “muitos judeus possuem bancos” (têm influência sobre a economia) e “Karl Marx é judeu” (o comunismo era uma ameaça ao país). No front externo, antes de uma invasão, Hitler costumava acusar os líderes daquele país de tramarem uma agressão contra a Alemanha.

A mesma técnica da grande mentira também tem sido empregada pelo movimento antivacina.

Há pessoas e organizações que afirmam categoricamente e em voz alta que as vacinas são perigosas. A mensagem “anti-vax”, um novo termo para esse tipo de fake news, por mais equivocada e enganosa que seja, encontra guarida em muitos pais.

Nos Estados Unidos, os grupos anti-vax estão crescendo e prestando um desserviço ao planeta. É cada vez maior o número de pessoas, inclusive do Brasil, que procuram pela internet informações daquele país. São centenas de sites e páginas do facebook de conteúdo antivacina que utilizam um arsenal poderoso de táticas para manipular pessoas para obter o seu intento. Eles grupos são fortes, bem organizados e financiados. Como resultado, por exemplo, existem na América escolas com 20, 30, 40% de crianças não vacinadas. A primeira consequência disso são os surtos de sarampo naquele país.

A desinformação prolifera. Para apoiar essas alegações, os sites antivacina usam evidências científicas erradas ou anedóticas e depoimentos de falsos especialistas. As mais frequentes são:

  1. As vacinas são perigosas pois causam autismo.
  2. O desaparecimento da pólio, assim como o de outras doencas contagiosas, não tem nada a ver com a vacina, mas com a melhora das condições de higiene da população, devido ao crescimento dos serviços públicos como água e saneamento.
  3. As vacinas contêm substâncias tóxicas.
  4. Faz mal dar tanta vacina para as crianças.
  5. Remédios homeopáticos são alternativas naturais da vacina.
  6. Um doutor importantes afirmou que as vacinas não são seguras.

Desbanquemos cada uma dessas afirmações.

  1. A Academia Americana de Pediatria produziu um documento de 21 páginas listando todos os estudos que mostram claramente que não há vínculo entre vacinas e autismo.
  2. Em 1954, houve um enorme estudo duplo-cego envolvendo 1,8 milhão de crianças em idade escolar. Metade delas recebeu a vacina contra a pólio, metade não. Depois de um tempo, as crianças vacinadas estavam ilesas enquanto que muitas das não vacinadas ficaram paralíticas. É uma prova científica do efeito imunizante da vacina.
  3. Algumas vacinas são feitas com bactérias ou toxinas produzidas por elas. Outras, levam vírus vivos atenuados ou mortos. São os princípios ativos das vacinas. Afirmar que as vacinas contém substâncias tóxicas é utilizar um fato pequeno de modo distorcido para apoiar uma grande mentira.
  4. Existem várias pesquisas científicas que comprovam que a quantidade de vacinas aplicadas nas crianças não faz mal à saúde, pelo contrário, as protegem. O que esses defensores antivacina esquecem de dizer é que estamos constantemente expostos a centenas de vírus, germes e bactérias existentes no meio ambiente, e que são inalados ou ingeridos por nós sem percebermos.
  5. Não existem pesquisas científicas que comprovam que tratamentos naturais e homeopatia previnem as crianças contra doenças contagiosas.
  6. Uma declarações mais usadas de falsa autoridade é a de um Dr. James R. Shannon, ex-diretor do NIH, Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, que teria dito, “a única vacina segura é a que nunca foi aplicada”. Não é possível encontrar a citação a não ser em sites antivacina, onde ela é repetida ipsis litteris. Além disso, verifica-se no site do NIH que o nome do ex-diretor é “James A. Shannon”, não “James R. Shannon”. Um pequeno erro repetido pelos sites antivacina?

Por que não contra-atacar essas fake news com material educativo repleto de fatos reais? Por que não é tão fácil.

Para sabermos como lidar com esse assunto, temos que considerar a realidade atual. Há muitas pessoas que querem viver naturalmente e reduzir o consumo de produtos industrializados, justamente o público mais vulnerável ao movimento antivacina.

A Academia de Pediatria Americana concluiu após estudo que algumas mensagens pró vacina podem fazer mais mal do que bem, porque as pessoas interpretam as evidências através de suas próprias lentes, e que os mais céticos tornaram-se ainda mais céticos ao receberem informações adicionais em prol da vacina.

Em 2017, a Organização Mundial da Saúde produziu um manual de orientação aos profissionais da saúde pública para responder às falsas informações. A regra número um é dirigir as mensagens ao público em geral e não às pessoas contrárias à vacinação. A regra número dois é desmascarar cada afirmação errada com dados e fatos científicos.

Há uma epidemia de desinformação e temos que inocular o público contra isso. Só esperamos que os cientistas não tenham que desenvolver mais uma “vacina” para ajudar as pessoas a se defenderem das fake news.

Wan Yu Chih
Presidente da Comissão Distrital da Fundação Rotária 2016-19

Fonte: “Age of Propaganda: The Everyday Use and Abuse of Persuasion”, livro de Anthony Pratkanis e Elliot Aronson; “Anti-Vaxx Websites, We’re Onto You”, Time, 11/02/2016; “How the Anti-Vaxxers Are Winning”, The New York Times, 08/02/2017; “How to Respond to Vocal Vaccine Deniers in Public”; World Health Organization Regional Office for Europe, 2017.

Situação de alerta

No dia 3 de julho, o Ministério da Saúde divulgou uma lista de 312 municípios onde a vacinação contra poliomielite em crianças ficou abaixo de 50%, e alertou para o risco do retorno da doença que está erradicada no Brasil desde 1990.

Cinco dos municípios listados estão na área de atuação do Rotary Distrito 4651: Florianópolis, Palhoça, Pedras Grandes, Anitápolis e Major Gercino.

A pedido do Ministério Público de Santa Catarina, em novembro do ano passado, a Justiça determinou que um casal de Garopaba levasse seus dois filhos ao posto de saúde da cidade para que recebessem as vacinas disponibilizadas pelo governo. A decisão tem caráter de urgência e deve ser cumprida em dez dias pelos pais.

O casal optou em não vacinar os filhos por entender que as vacinas não são necessárias, que elas trazem mais malefícios que benefícios. A Secretaria Municipal de Saúde e o Conselho Tutelar tentaram convencer os pais sobre a importância da vacinação. O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece que a vacinação é obrigatória e que os pais são obrigados a vacinar os filhos. Na decisão, a Juíza sustenta que não se trata de opção dos pais, mais sim de obrigação, já que não somente os seus filhos poderão ser prejudicados em decorrência da ausência de imunidade contra doenças, mas também outras crianças e a população em geral.

Segundo a epidemiologista Carla Domingues, coordenadora-geral do Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde, “o sucesso das campanhas de imunização no Brasil tem causado uma falsa sensação de que as vacinas não são mais necessárias, e que a população só procura a vacina quando o surto está na mídia e temos pessoas morrendo. Fora isso, as pessoas não são vacinadas. Como se a vacina fosse uma ação curativa e não preventiva.”

Quem já viu um caso de varíola? Um caso de sarampo? Uma criança com pólio? Onde foi parar a difteria? A rubéola congênita? E o tétano neonatal? Essas doenças, tão graves e comuns no passado, tornaram-se desconhecidas na atualidade, graças ao sucesso das vacinas.

Outro problema, de acordo com a Dra. Carla, é a divulgação de factoides nas redes sociais. Somente no Facebook foram encontrados cinco grupos reunindo mais de 13,2 mil pessoas. Nesses espaços, os pais compartilham notícias publicadas em blogs, a maioria de outros países, sobre as supostas reações às vacinas.

Se antes o movimento antivacina era encampado por religiosos ou conspiradores contra a indústria farmacêutica, hoje ele está cada vez mais “natureba”. A crítica agora é contra a artificialidade da vacina, que desregularia o sistema imunológico da criança por não conter substâncias naturais. Em grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo esses grupos podem ter mais influência; nas regiões remotas da Amazônia a dificuldade pode ser de acesso às vacinas ou até mesmo da falta delas nos postos de saúde.

Em 2017, pela primeira vez, todas as vacinações indicadas para crianças ficaram abaixo da meta de 95% de imunização. A da poliomielite ficou em 77%; do sarampo, 71%. É o nível mais baixo de vacinação de crianças no Brasil nos últimos 16 anos.

Hoje em dia, as pessoas viajam para todos os lugares, o que possibilita a circulação de vírus e outros agentes infecciosos com muita facilidade. É o caso do sarampo. Desde 2001, ele não existia mais no Brasil. Entretanto, de 2013 a 2015, no Ceará e em Pernambuco, a queda na vacinação de sarampo acarretou em um surto que acometeu 1.277 pessoas. Em 2018, até julho, o Amazonas teve 519 casos de sarampo, Roraima 272, Rio de Janeiro 14, Rio Grande do Sul 13, Pará 2, São Paulo 1 e Rondônia 1. As autoridades associam o início do surto à chegada de venezuelanos refugiados na região norte. No mundo, foram 173.330 casos no ano, até agora. Essa doença não tem cura, pode causar cegueira, lesões cerebrais e levar à morte.

Qualquer vacinação dificilmente chega a 100% da população. Mas, quanto maior for o contingente vacinado, maior a proteção conferida inclusive aos não vacinados. É a chamada “imunidade de rebanho”. A vacina contra a poliomielite sempre esteve disponível o ano inteiro nos postos de saúde. Mesmo assim, até 2012, o Brasil fazia duas campanhas anuais de vacinação contra a doença.

Por recomendação da Organização Mundial da Saúde, o Ministério da Saúde voltará a realizar este ano a Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite e Sarampo. Ela acontecerá de 6 a 31 de agosto de 2018, e no dia 18, será o Dia D da mobilização nacional. Todas as crianças com idade entre 1 ano e menores de 5 anos que procurarem os postos serão imunizadas – mesmo as que já tenham recebido as doses previstas no calendário infantil.

O sarampo está de volta. Agora, a preocupação é com a poliomielite. Como rotarianos, é hora de nos mobilizar e ajudar o poder público em nossas comunidades realizando campanhas públicas de divulgação, para incentivar os pais a vacinarem seus filhos e combater as fake news.

Wan Yu Chih
Presidente da Comissão Distrital da Fundação Rotária 2016-19

Fonte: “Adepto ao movimento antivacina, casal de Garopaba é obrigado a vacinar os filhos”, Diário Catarinense, 22/11/2017; “Alerta: 312 cidades têm baixa cobertura vacinal da pólio”, Ministério da Saúde, 03/07/2018; “Doenças erradicadas criam falsa sensação de que vacina é desnecessária”, Empresa Brasil de Comunicação, 07/07/2018.

Meu ócio criativo

Nesse momento em que as autoridades do país se preocupam com os baixos índices de vacinação das crianças contra a paralisia infantil, cabe lembrar o caso de Washington Olivetto. Ele, que é um dos maiores nomes da publicidade mundial, não teria passado o apuro que passou em sua infância, se houve sido vacinado.

Normalmente, sou bastante relaxado. Porém, num momento de dificuldade, tendo a me concentrar e a me superar. Cresço nos momentos adversos. Nem creio que seja uma qualidade. É uma característica minha. Talvez eu tenha nascido assim. Talvez seja um traço de personalidade definido ainda na infância.

Esse jeito de ser já se expressava entre 1955 e 1956, quando tinha meus 5 anos de idade. Um dia, eu fervi. Comecei a suar. Depois, tiritei de frio. Minha mãe logo detectou a febre, uma febrona. Para me ver foi chamada uma tia minha, diretora de um serviço de saúde na capital.

Ela fez com que me examinassem, mas não souberam determinar a enfermidade que me acometia. Os exames clínicos tampouco esclareceram o mistério. Suspeitaram, então, que o mal oculto fosse o poliovírus, causador da poliomielite, a popular “paralisia infantil”.

Pronto! Um susto tremendo na família. Na época, os pais viviam assombrados com imagens publicadas nos jornais e revistas. Mostravam crianças com poliomielite bulbar e paralisia do diafragma incapazes de respirar. Nesses casos, eram mantidas vivas por medonhas máquinas de pressão cíclica. Eram os chamados “pulmões de ferro”, mais assustadores do que a própria morte.

A primeira vacinação em massa contra a pólio estava sendo realizada justamente naquela época, pelo Dr. Jonas Salk. Mas isso nos Estados Unidos. Era ainda uma profilaxia considerada precária. A boa vacina, desenvolvida pelo Dr. Albert Sabin, essa da “gotinha” simpática, somente seria lançada no mercado na virada de 1961 para 1962.

Pelo sim e pelo não, pela falta de certeza e de remédio apropriado, resolveram me imobilizar e confinar num quarto de casa. Você pode imaginar o que é encarcerar um moleque serelepe por conta de uma doença apenas presumida?

Primeiro, pensei em me revoltar. Depois, compreendi que se tratava de justa precaução. Meus familiares não me queriam torto ou no terrível “pulmão de ferro”. Além disso, desejavam preservar de uma possível contaminação minha irmã recém-nascida. Aceitei o tratamento preventivo, que incluía uma alimentação especial e um trabalho regular de fortalecimento de músculos.

Ali, na cama, comecei a pensar num jeito de fazer o tempo escoar mais rapidamente. Assim, sem muito método, com a ajuda do povo de casa, especialmente dessa tia diretora de um serviço de saúde, aprendi a ler e escrever. De repente, eu podia fugir da minha “cela” pela janelinha dos livros. Conhecia lugares e vivia aventuras por meio da magia das palavras impressas.

Certamente, esse episódio me ajudou a desenvolver métodos intuitivos de autoaprendizado e, de certa forma, me lançou também no universo das ideias e da comunicação. Foi um limão que transformei em boa limonada.

Passei praticamente um ano nesse processo de terapia preventiva. Quando voltei a visitar o quintal de casa, tinha como bagagem os saberes proporcionados pela leitura. E como prêmio pelo sacrifício, uma estrutura muscular à prova de estiramentos e distensões, além de uma quantidade verdadeiramente absurda de cálcio no corpo.

Até hoje, quando comprimo os dedos, faz um barulho que assusta qualquer desavisado. Creck! Creck!

Extraído do livro “O que a Vida me Ensinou” de Washington Olivetto.

O fim do jornalismo local

Neste ano, três candidatas se inscreveram através do nosso Distrito para as bolsas Rotary pela Paz e estão agora no aguardo da seleção pela Fundação Rotária. Uma delas é ex-jornalista do Diário Catarinense e do Notícias do Dia.

Por que profissionais de jornalismo podem ser contemplados com essa bolsa? E qual é a importância do jornalismo para a paz?

Muitas vezes, no afã de alcançar maior circulação ou audiência com notícias sensacionalistas, a mídia de massa acaba intensificando os conflitos ao invés de reduzi-los.

Perto do final da Segunda Guerra Mundial, aviões americanos lançaram bombas nucleares em Hiroshima e Nagasaki. Mais de 100.000 civis, incluindo mulheres e crianças, foram mortos e centenas de milhares ficaram feridos. Nos dias atuais, a maioria dos americanos condena a decisão tomada por Harry Truman. Todavia, uma semana depois das bombas terem sido jogadas, somente 5% dos norte-americanos achavam que o governo não devia ter usado essas armas; surpreendentemente, 23% achavam que o país devia ter usado mais delas, antes do Japão se render.

Em 1990, George Bush decidiu enviar as tropas para o Golfo Pérsico. Sua decisão foi apoiada pelo Congresso, que não manifestou oposição. A mídia refletiu esse consenso e apontou as razões para o envio de tropas. O povo iraquiano chegou a ser descrito pela imprensa como “os desafortunados seguidores de Saddam Hussein, o açougueiro de Bagdá”.

O efeito da cobertura unilateral dos fatos é evidente. Apenas 23% dos americanos que não viam com frequência o noticiário apoiaram a decisão, enquanto que 76% dos expectadores habituais foram favoráveis à invasão do Iraque — 53% a mais.

Liberdade de expressão e acesso à informação são os pilares de uma sociedade livre e democrática. O jornalismo independente e equilibrado, que explora a notícia sob diversos ângulos, tem sido o principal meio para que as pessoas possam se inteirar dos fatos.

Na idade média, banqueiros e comerciantes que tinham investimentos em outros países precisavam de alguém para relatar as condições de negócios e incidentes como incêndios e tumultos. Algumas pessoas eram contratadas para reportar as notícias e com isso obter uma vantagem sobre os demais. Assim surgiram os primeiros repórteres. Com a invenção da prensa vieram os jornais impressos. Com a Revolução Industrial, os jornais de grande circulação. Com o rádio e a televisão, as redes de comunicação.

A história da tecnologia se repete. Invenções existentes são superadas por outras, mais eficientes, e a maioria das pessoas acaba sendo beneficiada. Porém não é o que acontece com o jornalismo. A Revolução Digital tornou a publicidade mais eficiente, o que tem sido ótimo para os anunciantes, mas terrível para os jornais que vivem de anúncios e da venda de exemplares.

Contudo, a pergunta que se faz hoje não é mais se os jornais impressos sobreviverão. O que se questiona é se a cobertura de notícias locais continuará existindo. Os jornais locais estão acabando. Eles não conseguem competir com as grandes redes de comunicação que publicam notícias de graça na internet em troco de anúncios digitais, dado que poucos internautas estão dispostos a pagar pelas assinaturas.

Esse é um problema a ser resolvido antes que os jornais locais deixem de existir e as noticias locais deixem de ser cobertas, favorecendo assim os interesses escusos, abusos de poder e o surgimento de conflitos, colocando em risco a vida das comunidades.

Wan Yu Chih
Presidente da Comissão Distrital da Fundação Rotária 2016-19

Fonte: “Age of Propaganda: The Everyday Use and Abuse of Persuasion”, livro de Anthony Pratkanis e Elliot Aronson; “Who Killed Local News?”, podcast publicado em 14/06/2018 por The Atlantic.

Bill Gates está investindo em galinhas

Contrariando o provérbio chinês, “Não dê o peixe, ensine a pescar”, Bill Gates resolveu dar galinhas para acabar com a pobreza.

“Foi revelador para mim saber que as galinhas podem fazer a diferença. Se você estivesse vivendo com 2 dólares por dia, o que faria para melhorar sua vida? Essa é uma questão real para os quase 1 bilhão de pessoas que vivem em situação de extrema pobreza hoje. De fato, se eu estivesse no lugar deles, eu criaria galinhas.”

Segundo Gates, elas são fáceis e baratas de se cuidar. Muitas comem o que encontram pelo chão. As galinhas só precisam de um lugar para se abrigar.

Elas são um bom investimento. Suponha que uma família comece com cinco galinhas. Se um vizinho possuir um galo, depois de três meses, ela terá 40 pintinhos. Vendendo cada frango por US$ 5, ela pode ganhar mais de US$ 1.000 por ano, renda superior à linha de pobreza extrema, de US$ 700 por ano.

Embora os ovos possam ajudar a combater a desnutrição, muitos agricultores com pequenas criações acham que vale mais a pena deixar os ovos eclodirem, e usar o dinheiro da venda dos filhotes para comprar alimentos. Se a criação for maior, eles podem separar alguns ovos para família.

Como as galinhas são pequenas e ficam perto de casa, elas são tidas como animais a serem criados por mulheres, em contraste com animais maiores como cabras ou vacas. E mulheres tendem a reinvestir a renda da venda em suas famílias.

Bill Gates prometeu doar cem mil galinhas. Para isso, ele fez uma parceria com a Heifer International, que cuidará da distribuição e supervisão da reprodução. A Heifer é uma organização sem fins lucrativos, fundada em 1944, que busca acabar com a fome e a pobreza por meio de uma agricultura sustentável.

O Rotary Club de Little Rock, Arkansas, se reúne semanalmente na Biblioteca Presidencial Bill Clinton, que fica a poucos metros da Heifer International. Com isso, vários funcionários da Heifer são membros do Rotary Club.

Sabendo que a Heifer se alinha à missão do Rotary de impulsionar as economias locais e melhorar a saúde, não é de se surpreender que as duas organizações tenham se emparceirado em inúmeras ocasiões nos últimos 30 anos. Juntas, elas fortalecem comunidades ajudando inúmeras famílias a vencerem a pobreza.

O estado de Arkansas ocupa o quarto lugar no ranking de pobreza nos Estados Unidos. Após conduzirem um estudo que determinou que havia uma considerável demanda inexplorada para o cultivo local de hortaliças orgânicas, rotarianos e a Heifer decidiram se reunir em mais uma iniciativa para apoiar a comunidade de Little Rock.

Com recursos da Fundação Rotária, os rotarianos adquiriram e forneceram, aos agricultores, túneis de estufas plásticas, para aumentar o periodo de cultivo, além de dar aconselhamento sobre marketing, finanças e comercialização. A Heifer forneceu treinamento sobre práticas sustentáveis e autossuficiência.

Desenvolvimento econômico e comunitário é uma das áreas de enfoque da Fundação Rotária. O Rotary Club de Little Rock é um dos parceiros do Rotary Distrito 4651 no projeto de subsídio global, para a criação de laboratórios de informática em onze escolas públicas participantes do Movimento Santa Catarina pela Educação.

Fonte: “Why I Would Raise Chickens de Bill Gates”, publicado em 07/06/2016 em gatesnotes.com; “Colaboração entre o Rotary e a Heifer ajuda agricultores a ofertar alimentos localmente”, publicado em rotary.org.